O Início
Uma xícara inesperada
Tudo começou com um único gole. Foi em Brasília, em um dia despretensioso na casa da minha sogra, que provei um café que mudou tudo. Servido em uma xícara simples, de torra caseira e sem nenhum ritual, ele tinha uma doçura, uma complexidade que minha mente lógica não conseguia processar. Não era um café comum.
Aquela anomalia deu início a uma obsessão. Que café era aquele? De onde ele vinha? A busca por responder a essa pergunta se tornou o primeiro passo da minha jornada.
"Como um café, aparentemente simples, podia carregar um sabor tão extraordinário?"
A Busca pelo Porquê
Buscando conhecimento
Aquela xícara em Brasília não saiu da minha cabeça. Aquele sabor se tornou um enigma, uma pergunta que ecoava na minha rotina. Como era possível? A curiosidade inicial rapidamente deu lugar a um projeto. A paixão, a um método.
Foi nessa busca que comecei a encontrar padrões, histórias de terroirs esquecidos, de variedades raras que, contra todas as probabilidades, produziam sabores únicos. Minha jornada agora tinha um mapa, e as pistas apontavam para um lugar improvável, um lugar que guardava um segredo centenário.
"Eu não queria mais apenas apreciar um bom café; eu queria entender a anatomia de um café verdadeiramente excepcional."
Meu instinto, treinado a analisar sistemas e estratégias, voltou-se para decodificar o café. Mergulhei em livros, cursos, artigos e conversas com especialistas, mapeando as variáveis que constroem um sabor: o terroir, a variedade genética da planta, o processo pós-colheita, a torra. Eu não queria mais apenas apreciar um bom café; eu queria entender a anatomia de um café verdadeiramente excepcional.
A Descoberta de um Museu Vivo
As pistas da minha investigação me levaram a um lugar que desafia a lógica: Triunfo, um oásis de altitude no sertão de Pernambuco. Ali, eu não encontrei apenas uma fazenda.
Guiado pelo Seu Deca, o guardião daquela terra, comecei a caminhar por entre as árvores. E o que vi foi de tirar o fôlego. Não era um cafezal comum, com linhas perfeitas sob o sol. Era uma floresta. Os pés de café não eram os donos do lugar; eram convidados, crescendo em perfeita harmonia com limoeiros, figueiras, bananeiras e árvores nativas centenárias.
Era um sistema agroflorestal em sua forma mais pura e selvagem, um ecossistema que se auto-regula há gerações. Um lugar onde a agricultura não impõe, ela dialoga com a natureza.
"Eu não estava em uma plantação, estava em uma cápsula do tempo."
Foi ali que o Seu Deca me mostrou as relíquias: milhares de pés da variedade Typica, com troncos grossos e retorcidos, com mais de 100 anos de idade. Um patrimônio genético e histórico vivo, produzindo frutos contra todas as probabilidades. A minha busca havia terminado. E a verdadeira jornada estava apenas começando.
A Minha Missão
Estar em Triunfo, diante daquelas árvores centenárias e da sabedoria do Seu Deca, cristalizou o propósito desta jornada. Percebi que o meu papel não era apenas o de um descobridor, mas o de um tradutor.
A busca, agora, não é apenas por um sabor excepcional. É para entender se é possível capturar a alma de um lugar e a resiliência de um século em uma única xícara. É uma jornada pela preservação da memória através do sabor.
"A minha missão se tornou clara: ser um curador para traduzir aquele terroir na xícara"
Minha missão se tornou clara: honrar a história centenária daquelas plantas e o cultivo ancestral daquela família. É sobre aplicar um método obsessivo de curadoria para decodificar e, com sorte, conseguir revelar todo o potencial de sabor que aquele terroir promete.
